Há dias em que o Hospital de São João parece uma pequena cidade dentro da cidade.
Corredores que não dormem, elevadores que passam mais depressa do que o tempo e profissionais que percorrem quilómetros sem sair de um único edifício. Mas, no meio deste movimento incessante, descobri algo que merece ser contado: há inovação a acontecer – e, surpreendentemente, ela anda de mãos dadas com a humanização.
Não falo apenas de máquinas novas, monitores reluzentes ou aplicações que nos lembram que os tempos mudaram. Falo de algo mais simples e, no entanto, mais difícil: pessoas que tentam fazer com que outras pessoas se sintam…pessoas.
Recentemente, assisti a um desses momentos discretos que ninguém regista em relatórios oficiais. Um enfermeiro, computador na mão, explicava a uma família ansiosa como poderiam acompanhar as atualizações do estado clinico do pai através da nova plataforma digital. “Assim evitam andar perdidos atrás de telefonemas,” dizia. O sorriso nervoso da filha transformou-se num suspiro de alívio. A tecnologia, afinal, pode ser um abraço com fios invisíveis.
Noutra ala, uma voluntária chamava de “senhora dona Maria” a uma doente que jurava já ninguém a tratar pelo nome. Ali, entre um cobertor e uma cadeira desconfortável, percebi que a inovação pode ser também uma palavra dita com cuidado.
Ouvimos muitas vezes que os hospitais são lugares frios. Talvez sempre o sejam um pouco.
Mas o Hospital de São João tem vindo a provar que a modernidade não precisa de apagar a humanidade. As videochamadas que aproximam famílias, a formação em comunicação empática, os espaços criados para conversas difíceis – tudo isto mostra que a saúde é feita tanto de ciência como de presença.
No fim do dia, saí pela porta principal com a sensação de que a verdadeira revolução não está apenas nos cabos, plataformas ou sensores. Está em quem olha nos olhos, explica, acompanha e estende a mão.
E talvez essa seja a maior inovação de todas: lembrar que cuidar é, antes de mais, um ato profundamente humano.




