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Quinta-feira, Outubro 2, 2025
OpiniãoO Carreirismo na Política Jovem: Um Obstáculo à Renovação Democrática

O Carreirismo na Política Jovem: Um Obstáculo à Renovação Democrática

Nos últimos anos, cresce em Portugal uma crítica cada vez mais evidente: as juventudes partidárias, longe de serem apenas polos de renovação ou espaços de debate político, estariam a funcionar como academias de carreiristas — onde ascender politicamente se torna fim último, não meio para servir, transformar ou representar.

Evidências e percepções

• No artigo “Juventudes partidárias ainda fazem sentido?”, do Expresso, surgem vozes de jovens que denunciam que estas estruturas partidárias são “pouco mais do que academias de carreirismo”. Dizem que há “incubadoras de pequenos vícios partidários” que promovem rigidez interna, e não permitem inovação ou pensamento crítico relevante.

• Outro texto de opinião, “Os Jovens e a Política. ‘O perigo é começar a pensar na política como carreira’”, alerta para o risco de se interiorizar cedo que o percurso político deve ser calculado para subir cargos, mais do que para representar efetivamente ou projetar visões de futuro.

• Também se nota uma frustração no interior dessas juventudes: muitos jovens que entram com entusiasmo sentem que as suas ideias pouco importam, que a lealdade institucional ou os favores pessoais (o “quem conhece quem”, o “quanto me consegues oferecer”) pesam mais do que propostas ou competências. (Relatos públicos e redes sociais divulgam com frequência estas percepções.)

As causas profundas

1. Estrutura interna e cultura partidária

Muitos partidos mantêm práticas clientelistas ou hierárquicas nas suas juventudes, o que favorece quem está disposto a fazer sacrifícios pessoais, cultivar conexões e obedecer ordens, ao invés de quem propõe soluções originais ou questiona o status quo.

2. Incentivo institucional para carreiras

Dentro dos partidos, ingressar numa juventude partidária é muitas vezes visto como “porta de entrada” para lugares de destaque: candidaturas, cargos internos, networking. Isso é legítimo até certo ponto, mas quando se torna o objetivo central, desvirtua o papel mais amplo da juventude política.

3. Falta de políticas jovens coerentes

Quando as juventudes partidárias focam apenas no crescimento orgânico ou em eventos simbólicos, raramente propõem ou acompanham políticas com impacto real para os jovens: tema da habitação, mobilidade, emprego, saúde mental, educação, participação real nos orçamentos e decisões locais. Sem esse “corpo programático”, o discurso torna-se vago.

4. Desconfiança e desmotivação

Os jovens percebem que muitos políticos “já sabiam o caminho” antes de entrar em cargos públicos — ou que muitos entram não para servir, mas para se promover. Isso gera descrédito, abstinência ou afastamento da política institucional, ou migração para formas de participação mais informais.

Consequências

• Erosão da legitimidade das juventudes partidárias — se estas não forem percebidas como instrumentos de transformação, deixam de atrair quem procura mudança.

• Polarização extrema: em vez de promover diálogo e construção de pontes, a carreira partidária incentiva a especialização ideológica, militância de identidade e reforço dos extremos.

• Desconexão com os jovens reais: aqueles que vivem precaridade, migração, desigualdades socioeconómicas ou outras dificuldades veem pouca utilidade nas juventudes partidárias que não tocam esses problemas concretos.

Que alternativas e caminhos de mudança?

Maior envolvimento nas políticas públicas jovens | As juventudes poderiam liderar ou propor políticas concretas destinadas aos jovens: habitação acessível, estágios de qualidade, saúde mental, suporte ao empreendedorismo juvenil etc., com acompanhamento e avaliação.

Formação política séria e cidadã | Mais do que “como ser político”, formar para “como servir”, para ética, transparência, para participação em endurecimento democrático, incluindo literacia política, financiamento e público.

Valorização da voz jovem fora de ciclos eleitorais | Ouvir jovens nas políticas locais, nos orçamentos participativos, promover consultas reais. Em vez de esperar pelas eleições cada 4 anos, integrar os jovens nos processos deliberativos permanentes.

O desafio não é apenas “mais jovens nos partidos”, mas melhores juventudes, que permitam aos jovens acreditarem que participar vale a pena porque podem efetivamente mudar algo. O carreirismo é um risco real, mas não é inevitável: com reformas, ética e compromisso, a juventude partidária pode deixar de ser vista como prenuncia de corporativismo ou autopromoção, e voltar a funcionar como espaço de renovação, de idealismo pragmático e de compromisso coletivo.

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