Margarida Lemos tem 34 anos, é de Vizela e está a exercer enfermagem no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) desde 2008. Refere que, nos dias de hoje, vê a enfermagem moderna como impulsionadora, de força, garra e coragem.
Margarida recorda que, aos 15 anos, se alistou nos Bombeiros Voluntários de Vizela com a intenção de “querer ajudar, cuidar, salvar” enquanto lema e missão. Em 2001 definiu ser enfermeira e, a partir desse momento, conta que lutou e continua a lutar pela profissão.
A enfermeira refere que “o gosto pela profissão sempre foi o mesmo, no entanto, houve altos e baixos, mas nunca quis desistir”, afirmando que “a arte de cuidar” tem-na nas próprias mãos. Ao longo de 13 anos, avança ter tido “momentos bons e menos bons, mas esses momentos fizeram-me ficar mais forte, mais confiante e mais esperançosa”, realçando um dos momentos como sendo o da Covid-19.
Com o surgimento da pandemia, a enfermeira Margarida afirma ter existido uma adaptação, referindo que, enquanto enfermeira da área cirúrgica, do Serviço de Ortopedia, a “Covid-19 foi e é um enorme desafio profissionalmente”, sendo que os enfermeiros “vestem a camisola” e unem-se, decidindo “viver a luta como uma missão”, explica Margarida.
A área Covid-19 foi aberta em março de 2020, no Hospital de Penafiel, tendo sido uma luta coletiva desde então. De acordo com a enfermeira “foi graças à equipa, à união, à entrega, ao amor pelo próximo que conseguimos cuidar e garantir cuidados de saúde com segurança e qualidade. Apesar de todos os obstáculos, do medo, da exaustão, da tristeza, a equipa conseguiu manter a fé, a esperança e a união. A segunda vaga foi forte, mas fomos à luta independentemente das adversidades, da pressão. Adaptamo-nos, mudamos da área cirúrgica para a área médica, criamos novas rotinas, novos circuitos, formamos novos elementos, outros colegas se juntaram a nós… uma aprendizagem constante. Juntos seguimos em frente porque a missão era Cuidar do outro”, avança.
Com o surgimento da Covid-19 e as dificuldades que a pandemia trouxe, Margarida lemos confessa que, na própria opinião, até ao momento, só era dada a importância ao enfermeiro aquando o surgimento de uma necessidade/doença e, de momento, avança que “o país, o mundo precisa de Nós e isso é visível através dos relatos, das saudações, da comunicação social, das entidades e da Organização Mundial da Saúde. Aproveito para agradecer a toda comunidade que nos “mimou” durante a primeira e segunda vaga. Várias foram as mensagens de apoio, carinho e ternura. Obrigada em nome da Equipa”.
Margarida Lemos explica que, uma vez que a informação e formação, em tempos de pandemia, tem estado em constante alteração, torna-se uma obrigação a adaptação e formação de novas estratégias regularmente. A enfermeira explica que “neste momento, a situação está mais calma, mais controlada, no entanto, requer um investimento pessoal, profissional e institucional constante. Esta “experiência” ficará marcada eternamente nas nossas vidas. Há marcas que irão ficar para sempre. Apesar dos momentos duros que vivemos, nos quais foram divulgados pela comunicação social, nós conseguimos ultrapassar. Acredito que somos melhores profissionais de saúde, melhores pessoas, melhores cidadãos”.
“O medo da contaminação, o risco, a insegurança, o desconhecido” eram alguns dos principais receios iniciais da enfermeira, posteriormente “a morte, a despedida / não despedida, o sofrimento e a angústia da família” também fizeram parte do quotidiano de Margarida.
“Momentos duros, muito duros, que estarão gravados na minha vida para sempre. Olhos tristes, palavras duras, momentos críticos, decisões difíceis. Ficaram registados eternamente…”
O trabalho dos enfermeiros, numa fase pandémica, começou a ser valorizado de uma forma diferente e numa escala maior, isto porque trabalharam, incansavelmente, na linha da frente. Neste momento, Margarida confessa que “os enfermeiros estão cansados”, acrescentando que nunca pensaram “passar por momentos tão duros, tão difíceis, tão desafiantes”. Por experiência própria, a enfermeira conta ser “gratificante quando vemos os doentes a entrar pela porta da consulta externa porque não desistimos, porque lutamos por eles, porque lutamos pela vida. Isto aquece-me o coração”.
“Faz-me ir à luta todos os dias e não desistir. Mesmo cansada e, por vezes, desiludida, tento sempre dignificar a minha profissão e dar o melhor de mim”
Ao pedirmos a Margarida Lemos uma mensagem para passar aos recém-licenciados na profissão, esta refere a importância do “investimento pessoal, profissional e académico”, acreditando que “apesar das adversidades, dos contratos precários, da remuneração baixa, da não valorização governamental, é necessário lutar pela nossa profissão. Unidos somos mais fortes. Investir em projetos inovadores, divulgar o nosso trabalho, dar voz às nossas ações, apoiar a Investigação em Enfermagem é o futuro”, explica.
Na pele de um aluno de enfermagem
Gonçalo Meira é natural de Ermesinde, Valongo, e é aluno de enfermagem no Instituto Piaget. Conta que desde cedo se apaixonou pelo “mundo da saúde” e que, sempre preocupado com o outro, tentou “obter o máximo de conhecimento possível e tentar também criar uma relação terapêutica com aqueles que precisam de uma intervenção rápida”.
De acordo com o futuro enfermeiro “foi algo que me fascinou, assim como o ambiente hospitalar, apesar de, por vezes, não ser o melhor”.
Face à situação que o país atravessou em 2020/2021, a enfermagem tornou-se, nitidamente, mais importante. Gonçalo explica que “finalmente algumas entidades e altas patentes se aperceberam do valor que esta profissão deveria ter tido já há bastante tempo”, reiterando que, apesar disso, “há uma série de pontos negativos a aprimorar, algo que tem vindo a melhorar ultimamente e acredito que ainda irá melhorar mais”, refere.
“Provavelmente após a pandemia essas arestas irão ser limadas e tudo ficará resolvido. A desvalorização dos enfermeiros está a diminuir e isso é muito bom para o mundo e para a sua população”
O futuro enfermeiro avança que, face à pandemia, aprendeu a importância do “humanismo para com todos os que nos rodeiam”, acreditando ser uma das pessoas a quem a população se irá “agarrar”. Na opinião de Gonçalo “infelizmente com a pandemia, a saúde física e psicológica da população em geral degradou-se. Temos o poder de impactar positivamente a vida do próximo e isso é o maior prazer que um enfermeiro pode ter”, explica.
“É gratificante ver a felicidade de um paciente curado. Acho que nada paga esse sentimento”
O que mais se sentiu, ao longo da pandemia, foi a convivência entre as pessoas, o que culminou, de acordo com Gonçalo Meira, no desaprender “a viver e a conviver, e na população jovem estes pontos são importantes no nosso desenvolvimento”, explica.
O sonho do jovem universitário sempre foi estar ligado à enfermagem ou medicina, área que o fascina. Gonçalo chega mesmo a referir que “o facto de ajudar os outros é muito gratificante e impagável. Infelizmente, o enfermeiro em Portugal, neste momento, não tem o devido valor e um dos meus objetivos é ir trabalhar lá para fora à procura de uma melhor condição de vida, mas isso provavelmente só irá acontecer após completar a especialização”, avança.
Por outro lado, avança também que, ao nível trabalho, considera-o como excelente, no entanto, no que diz respeito às horas laborais, o jovem caracteriza-as como “horríveis”, adiantando que “há profissionais a fazer turnos de 24 horas em condições de stress por causa da covid-19. Deve ser realmente doloroso trabalhar nessas condições, repleto de EPI’s e sob pressão, na linha da frente. O meu obrigado a quem já esteve e ainda continua na linha da frente, apesar de estar tudo muito mais calmo”.
Quando pedido para avançar uma mensagem à população num momento como aqueles que ainda atravessamos, o futuro enfermeiro afirma a necessidade da população se respeitar, proteger e cuidar uns dos outros, evidenciando que “a vida é curta e temos de preservar o próximo. Peço que tenham empatia, estamos quase na reta final, a luz ao fundo do tunel está cada vez mais próxima e depende de todos nós.