Em Paços de Ferreira, a verdadeira magia do Natal encontrou o seu palco não nos paços do concelho, mas sim na porta de um humilde café. Este ano, a proprietária de um estabelecimento local, em Meixomil, deu uma lição de cidadania ao tomar uma iniciativa tão poderosa: promover uma Noite de Natal digna para quem estaria sozinho.
É daquelas notícias que nos aquece a alma. A iniciativa não tardou a ganhar asas: pastelarias da região prontamente se solidarizaram; parcerias com privados asseguraram as comidas e a proprietária cede o espaço. É o melhor de Paços de Ferreira a erguer-se.
Contudo, este cenário de mobilização espontânea levanta uma questão desconfortável: Onde está o executivo municipal nesta história?
Até ao momento, não se vislumbra qualquer sinal de apoio ou sequer um comunicado de apreço por parte do poder local. Esta ausência é mais do que um mero esquecimento; é um sintoma de que as prioridades estão trocadas.
A solidariedade para com os mais vulneráveis – aqueles que a solidão castiga nas épocas festivas – não deveria ser uma responsabilidade primária das estruturas de apoio social e, por extensão, do próprio município?
As autarquias têm a obrigação moral e, muitas vezes, os recursos logísticos e financeiros para orquestrar e apoiar iniciativas de grande impacto social como esta.
Enquanto o município gastou os recursos financeiros em plena campanha eleitoral exacerbadamente em eventos de mero entretenimento, a verdadeira necessidade social é identificada e suprida por uma cidadã comum. É um contraste gritante: a rede de pequenos empresários a agir e a liderar pelo exemplo, e o poder local a ficar para trás, na sombra, a assistir.
Não seria de esperar que este tipo de iniciativas – que combatem a solidão, promovem a inclusão e reforçam os laços comunitários – partissem, ou fossem ativamente apoiadas e amplificadas, pelo poder local?
Fica a dica, ou melhor, fica a exigência: o executivo municipal de Paços de Ferreira tem a oportunidade de demonstrar que a sua prioridade vai além da festa e se estende a quem verdadeiramente precisa. Que se solidarizem, apoiem ativamente e reconheçam publicamente a extraordinária liderança desta cidadã. A verdadeira luz do Natal acendeu-se no café, mas seria bom que o município ajudasse a mantê-la acesa.




