Em Paços de Ferreira vivem cerca de dez mil idosos com mais de 65 anos. Muitos trabalharam toda a vida, contribuíram para este concelho e, no entanto, enfrentam hoje um dilema cruel: comprar os medicamentos ou pagar a conta da luz.
Esta é uma realidade que devia envergonhar qualquer autarquia moderna. Não é aceitável que, num concelho com orçamentos robustos, ainda haja quem adie um tratamento por falta de dinheiro. A saúde não pode ser um luxo. É por isso que defendo a criação da “Farmácia Solidária Municipal”, uma medida simples, justa e financeiramente sustentável, sem rótulos partidários nem segundas intenções.
A proposta é clara: a Câmara Municipal pagaria uma parte do valor dos medicamentos essenciais (após comparticipação do Estado) a todos os residentes com 65 ou mais anos e rendimentos inferiores ao salário mínimo nacional. Não se trata de caridade, mas de justiça social aliada à boa gestão. Não há propaganda, nem promessa eleitoral, há apenas uma escolha: usar o dinheiro público onde ele realmente faz falta.
Os números são claros. Paços de Ferreira tem cerca de 10 000 idosos, e estima-se que mais de 5 000 vivam com rendimentos abaixo do salário mínimo nacional. Com um apoio médio de 15 euros por mês, o programa teria um custo anual de cerca de 950 mil euros, incluindo a gestão e a auditoria. Este valor representa menos de 1,5% do orçamento municipal, sendo, por isso, totalmente viável se forem reduzidas despesas menos prioritárias, como publicidade, um ou outro evento ou assessorias externas.
A execução seria simples e transparente. Cada beneficiário teria um Cartão Municipal de Saúde Sénior. Bastaria apresentá-lo na farmácia do concelho para que o desconto ou o respectivo pagamento fosse automaticamente aplicado. A farmácia seria depois reembolsada pela Câmara, de forma mensal e auditada.
Com este modelo, o dinheiro ficaria em Paços de Ferreira, a circular nas nossas farmácias locais, ajudando a sustentar empregos, negócios familiares e o comércio de proximidade. Trata-se de uma política inteligente: apoia os idosos, reforça a economia local e evita desperdício. Além disso, os benefícios em saúde pública seriam imediatos. Menos abandono de tratamentos significa menos internamentos, menos urgências e menos sofrimento. É um investimento com retorno humano e económico.
Quero deixar claro que esta não é uma proposta partidária. Não sou militante de nenhum partido. Sou sim, um cidadão interessado em política como qualquer outro, mas com uma forte preocupação com o rumo da nossa terra, que acredita que a política deve voltar a ser sinónimo de serviço público, e não de propaganda. Paços de Ferreira precisa de menos fogos de artifício e mais sensatez. De menos palavras e mais medidas concretas. De mais respeito por quem trabalhou a vida inteira e agora precisa de ser respeitado e não com discursos, mas com ação.
Em Paços de Ferreira, ninguém devia deixar de se tratar por falta de dinheiro. A dignidade dos nossos idosos deve ser sempre a primeira prioridade.
