O atual conflito militar entre a Rússia e Ucrânia não é novidade nas relações internacionais. As raízes desta problemática são históricas, mas o fenómeno considerado a gota de água nas relações entre os dois países data de 2014, com a anexação ilegal da Crimeia, território ucraniano composto por uma larga percentagem de cidadãos pró-Rússia, por parte desta última. Qual a relevância desta região no conflito que vivemos? Desde a sua anexação, a Crimeia tem sido o epicentro de choques entre a Rússia, a Ucrânia e entre a UE e os EUA, com os atores do Ocidente a defenderem a pertença da Crimeia à Ucrânia e a Rússia a defender a integração desta no seu território. Este território não foi o único a acomodar movimentos separatistas. Luhansk e Donetsk também foram tomadas pelos separatistas pró-Rússia no fatídico ano de 2014, apesar de não terem sido reconhecidas por nenhum Estado do sistema internacional. Estes eventos vieram assombrar anos mais tarde o equilíbrio no continente europeu.
O que entra também em jogo é a possível entrada da Ucrânia na NATO, pretensão demonstrada pelo país em 2008. O plano foi descartado após a eleição de Viktor Yanukovych em 2010, que manteve a posição de país não-alinhado. No entanto, os eventos derivados da invasão russa em 2014 e a subida ao poder da nova administração ucraniana, liderada por Petro Poroshenko, levaram à definição de novas prioridades, sobretudo a tentativa de adesão à NATO. O afastamento da Ucrânia face à Rússia e a eventual integração nas organizações internacionais reforçou a instabilidade entre os Estados. A 21 de fevereiro de 2022, a Rússia reconheceu a independência Donetsk e Luhansk, sendo que no dia seguinte foi autorizado o uso da força militar nos territórios. Três dias depois, a Rússia iniciou uma invasão armada na Ucrânia, escalando definitivamente as tensões. Considerado o maior ataque militar a um Estado soberano europeu desde a II Guerra Mundial, esta ofensiva tinha dado sinais em março de 2021 quando a Rússia começou a reunir forças militares ao longo da sua fronteira com a Ucrânia. Em resposta, a NATO tem enviado tropas para os Estados membros que se encontram perto da região, enquanto cidadãos ucranianos fogem do país. Como expectável, a UE, os EUA e os seus aliados rapidamente introduziram múltiplas sanções direcionadas à Rússia.
Caberá à diplomacia entre os países para que se ponha um fim à guerra e se reestabeleça a paz tendo em conta, acima de tudo, o bem-estar dos/as cidadãos/ãs.
Maria Luís Torres Pacheco, licenciada em Relações Internacionais pela Universidade do Minho e atual mestranda do segundo ano do mestrado em Relações Internacionais, na mesma universidade.