A saúde pública em Portugal encontra-se numa encruzilhada. Há muito que se fala da necessidade de reformas estruturais no Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas as soluções tardam, enquanto os utentes continuam a sofrer com atrasos, ineficiências e um sistema que já não responde às suas necessidades reais. Está na hora de agir com coragem, estratégia e compromisso com o bem-estar dos Portugueses.
A primeira frente de atuação deve ser o reforço das unidades de saúde locais. Os centros de saúde, que deveriam ser a porta de entrada rápida e eficiente no sistema, estão frequentemente esvaziados de meios técnicos e humanos. Equipá-los com aparelhos de diagnóstico como ecografias e radiografias, etc — e com profissionais qualificados para os operar — é um passo fundamental para garantir diagnósticos e tratamentos mais céleres. Atualmente, um simples exame pode obrigar a semanas de espera: espera por marcação, espera por resultados, espera por nova consulta para o diagnóstico/tratamento e depois, em muitas vezes até a necessidade de fazer novos exames. O tempo que se perde entre a primeira queixa e o início de um tratamento eficaz é, muitas vezes, o tempo em que a doença se agrava e a vida do doente fica em suspenso.
Este ciclo de inércia arrasta consigo consequências graves. Muitos cidadãos, por não conseguirem uma resposta atempada, acabam por recorrer ao setor privado, com custos incomportáveis, ou por permanecerem em situação de baixa médica durante longos períodos — situações que poderiam ser evitadas com um sistema de saúde bem estruturado e descentralizado.
É também urgente repensar o funcionamento dos centros de saúde. Estes devem ter capacidade de resposta em horário alargado, incluindo fins de semana, para poderem acolher situações clínicas não urgentes e, assim, aliviar a pressão crescente sobre os serviços de urgência hospitalar. A ida às urgências não pode continuar a ser a única opção viável para quem não consegue uma consulta em tempo útil.
Mas há um outro problema, menos visível, que afeta milhares de utentes: o acesso à fisioterapia e reabilitação. Após finalmente se ter um diagnóstico, segue-se muitas vezes uma nova espera, longa e desgastante, para iniciar tratamentos fundamentais para a recuperação. A realidade é que os protocolos “locais” existentes com prestadores de cuidados de fisioterapia são insuficientes para a procura. O Estado deveria diversificar estes acordos, permitindo que mais entidades pudessem colaborar, em vez de concentrar a resposta em muitos casos numa única instituição “local” que, inevitavelmente, se vê incapaz de dar resposta em tempo útil.
O que está em causa é mais do que números e estatísticas. Está em causa a qualidade de vida de milhares de utentes. Está em causa a dignidade no acesso à saúde. Está em causa a confiança num sistema que deveria cuidar de todos, independentemente da sua capacidade económica.
É hora de os políticos deixarem de tratar a saúde como tema de campanha e passarem a tratá-la como prioridade nacional. A saúde não pode continuar a ser um luxo nem um campo de promessas vãs. É preciso ação. É preciso visão. E, acima de tudo, é preciso respeito pelos cidadãos.
Jean Philippe Carneiro