OpiniãoSim, Sr. Ministro: proibir os telemóveis é educar

Sim, Sr. Ministro: proibir os telemóveis é educar

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Há pouco mais de um ano, quando o Partido Socialista ainda governava, escrevi no Observador um artigo com um título simples, mas firme: “Telemóveis nas escolas? Não, obrigado”. Naquela altura, o debate sobre a presença dos telemóveis nas escolas ainda estava no início, e as orientações oficiais do Governo ainda não tinham sido definidas. Hoje, com grande satisfação, vejo que o atual Ministério da Educação, pela voz do Professor Fernando Alexandre, decidiu tomar uma posição corajosa: proibir o uso de telemóveis até aos 12 anos nas escolas portuguesas.

Aplaudo esta decisão — e não apenas como professor, mas como cidadão preocupado com a saúde emocional e intelectual das nossas crianças. O uso indiscriminado de telemóveis em contexto escolar não é neutro: interrompe relações humanas, mina a concentração, dificulta a autoridade pedagógica e empobrece a aprendizagem.

É um gesto de coragem política e visão educativa reconhecer que a escola não pode ser um prolongamento acrítico da cultura digital. Não estamos a falar de proibir tecnologia — estamos a falar de saber quando, onde e como a tecnologia deve entrar. A escola, mais do que um espelho da sociedade, deve ser um espaço de formação do carácter, de hábitos saudáveis, de concentração, de interioridade.

No artigo que escrevi naquela época, referia o exemplo da Finlândia, que já baniu os smartphones no ensino básico com resultados muito positivos. Portugal segue agora por esse caminho, com realismo, mas também com ambição. Esta medida não se resume a um gesto simbólico; é um sinal claro de que a escola deve recentrar-se na sua missão nuclear: formar seres humanos íntegros e atentos.

O meu apoio a esta política não é partidário — é pedagógico. E acredito que a maioria dos professores, sobretudo aqueles que diariamente enfrentam turmas desfocadas e cansadas, verão nesta orientação uma libertação. Será agora possível exigir mais atenção, mais escuta, mais relação. Será possível educar melhor.

A proibição, claro, não resolve tudo. Mas é um ponto de partida. Os pais devem ser chamados a colaborar, as escolas devem organizar alternativas de socialização nos intervalos e deve haver também reflexão nas famílias sobre o tempo de ecrã fora da escola. Mas já não estamos num tempo para hesitações. O Governo acerta ao liderar com convicção.

Como educador, cidadão e autor do artigo que antecipou este debate público, coloco-me ao lado desta política pública. Quando se governa para o bem das crianças, não há neutralidade possível: há que apoiar. E quando se educa com exigência e humanidade, como tento fazer todos os dias, a tecnologia serve — mas nunca comanda.

Parabéns, Senhor Ministro. A educação portuguesa precisa de mais decisões como esta. Conte com a nossa voz.

Paulo Freitas do Amaral

Professor de História e Português, autor do artigo de opinião “Telemóveis nas escolas? Não, obrigado” (2024)

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