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Quando uma terra se esquece de si

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Às vezes, ao passear por Paços de Ferreira, dou por mim a pensar como é que chegámos aqui. Não estou a falar das fábricas, dos centros comerciais ou das rotundas que parecem multiplicar-se, falo do que já fomos. Do que nos unia. Falo da alma desta terra.

Havia tempos em que bastava um “bom dia” à porta ou um olhar na rua para sentirmos que estávamos entre os nossos. Não era preciso muito. Sabia-se de onde se vinha e respeitava-se isso. Havia um certo código não escrito, trabalho, palavra dada, mão estendida quando era preciso. E isso bastava para nos sentirmos ligados.

Hoje, esse fio invisível parece cortado. Vive-se depressa, fala-se muito nas redes e pouco cara a cara. Cada um fechado nos seus assuntos. Falta tempo, paciência, vontade. Mas acima de tudo, falta ligação e valores.

Quando os valores desaparecem, abrem-se espaços perigosos. Espaços onde surgem vozes que prometem soluções fáceis, inimigos claros e ideias feitas. E quando estamos cansados, desiludidos, vulneráveis é fácil acreditar nessas vozes. Porque pelo menos parecem certezas. Mesmo que não passem de ilusão.

Mas o problema não são só os radicais. O problema maior está em quem vê tudo isto a acontecer e se cala. Em quem podia fazer diferente, mas escolhe o conforto. Está no medo de desagradar. Na falta de coragem para dizer “basta”. E, no fundo, também na nossa aceitação resignada porque é mais fácil seguir do que confrontar.

Se isto continuar assim, o que nos espera não é bonito. Vamos ter mais gente desligada, mais jovens a querer sair, mais velhos a sentirem-se esquecidos. Vamos viver lado a lado, mas cada um no seu mundo. Sem laços, sem confiança, sem rumo.

Mas ainda há esperança. Não nas promessas decoradas. Não nas fotos de campanha. Mas nos gestos pequenos. Nas conversas honestas. Nos exemplos que damos, mesmo quando ninguém está a ver. Na escolha de ser justo quando dava jeito ser indiferente. É aí que se começa a reconstruir.

Paços de Ferreira merece mais. Merece voltar a ser uma terra onde nos reconhecemos uns nos outros. Onde não é só o móvel que é forte mas também o caráter de quem cá vive.

Ainda vamos a tempo. Se quisermos.
“José Futuro”

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