As eleições autárquicas em Paços de Ferreira não são apenas uma escolha entre candidatos e partidos; são também um reflexo dos desafios mais amplos da democracia portuguesa. A polarização política, cada vez mais visível tanto a nível nacional como local, levanta dúvidas sobre a capacidade das autarquias responderem com eficácia aos problemas reais da população. Quando o debate político se reduz a slogans, ataques pessoais e acusações constantes, o resultado é um desgaste da confiança pública e um afastamento crescente dos cidadãos.
Em Paços de Ferreira, esta tendência é clara. A disputa entre o Partido Socialista, que procura manter o poder, e a coligação PSD/CDS, que apresenta a sua candidatura como alternativa, tem sido marcada mais por ataques mútuos do que por uma discussão aprofundada sobre programas e prioridades. A emergência de movimentos independentes, como o UPF, e a entrada de partidos mais pequenos, como o LIVRE, revelam que há procura por alternativas, mas também contribuem para fragmentar o debate. Em vez de se falar de soluções concretas para o saneamento, a mobilidade, a habitação ou a qualidade ambiental do concelho, assiste-se frequentemente a uma troca de acusações que pouco acrescenta ao esclarecimento dos eleitores.
É neste contexto que a questão da reforma política se torna urgente. A nível local, isso significa criar mecanismos mais robustos de transparência na gestão municipal, reforçar a fiscalização das contas públicas e aproximar as decisões da população, através de instrumentos como o orçamento participativo ou fóruns regulares de auscultação. Mais do que mudar rostos ou siglas, é preciso mudar práticas e garantir que quem exerce funções políticas o faz com responsabilidade, prestação de contas e abertura ao escrutínio.
A polarização não se combate apenas com apelos à moderação; combate-se sobretudo com clareza programática, com dados concretos e com compromissos mensuráveis. Os partidos e candidatos em Paços de Ferreira têm a responsabilidade de apresentar não apenas promessas genéricas, mas planos de ação verificáveis, com metas e prazos definidos. A população, por sua vez, precisa de ter acesso a informação clara, livre de manipulações e “fake news”, que muitas vezes circulam em redes sociais e minam ainda mais a credibilidade do sistema.
O rumo do sistema político local depende, em última análise, da capacidade de regeneração das suas instituições. Se a autarquia conseguir ser um exemplo de boa governação, transparente e próxima das pessoas, pode tornar-se referência positiva num tempo em que a política enfrenta uma crise de confiança generalizada. Se, pelo contrário, se mantiver refém da polarização, da opacidade e das disputas partidárias sem conteúdo, arrisca-se a aprofundar o afastamento entre cidadãos e poder político.
Paços de Ferreira tem, nesta eleição, a oportunidade de escolher entre dois caminhos: perpetuar um modelo de confronto estéril, que serve mais os partidos do que a comunidade, ou exigir uma verdadeira reforma política local, que coloque a cidadania no centro das decisões. O futuro do sistema dependerá dessa escolha — e ela começa com o voto consciente de cada eleitor.