Quase dois meses após as eleições autárquicas, o PSD de Paços de Ferreira decidiu, finalmente, reunir em plenário para “analisar os resultados políticos e eleitorais”. À partida, um exercício saudável de reflexão interna. Na prática, um retrato fiel do estado actual do partido no concelho.
O cenário falava por si. Um silêncio ensurdecedor, uma casa praticamente vazia e uma plateia composta por pouco mais de 25 militantes. Entre eles, alguns membros da comissão política, alguns presidentes de junta e candidatos. Os restantes? Ausentes. Talvez por desinteresse, talvez por cansaço, ou talvez porque já perceberam que estas reuniões servem essencialmente para falar… para os mesmos de sempre.
E é precisamente aqui que a questão se impõe: que mais havia para dizer? Analisar o quê, com quem e para quem? Quando um partido se fecha entre quatro paredes, repetindo discursos, rostos e estratégias, o resultado é previsível. O PSD de Paços de Ferreira parece ter-se resumido a isso mesmo, um círculo fechado, confortável na sua própria bolha, alheado da militância de base e, mais grave ainda, distante da população que pretende representar.
O momento mais curioso quase digno de nota humorística surge quando se percebe que muitos militantes ainda nem sequer sabiam da existência de eleições internas iminentes. No entanto, o braço direito do actual presidente já se apresenta, com naturalidade, como candidato. Uma antecipação notável, diga-se, num partido onde a informação parece circular apenas em corredores muito específicos.
Tudo isto nos leva a uma conclusão difícil de contrariar, venha quem vier, faça-se o plenário que se fizer, o resultado aparenta ser sempre o mesmo. Mais do mesmo. As mesmas figuras, os mesmos métodos, a mesma falta de autocrítica real e a mesma incapacidade de abrir o partido à renovação, à pluralidade e ao debate sério.
Talvez o problema não esteja na falta de reuniões, mas na falta de vontade de ouvir. Talvez o PSD de Paços de Ferreira precise menos de plenários formais e mais de coragem política. Coragem para mudar, para incluir, para questionar lideranças e estratégias. Até lá, continuará a falar para si próprio num silêncio cada vez mais evidente e numa sala cada vez mais vazia.
Porque quando um partido deixa de ouvir os seus militantes, dificilmente conseguirá ouvir os cidadãos.




