A linha da liberdade de expressão começa a tornar-se excessivamente apertada no regime democrático que conduz a sociedade portuguesa desde 1974. O escrutínio feito pela comunicação social ao desempenho das figuras públicas foi uma das conquistas do 25 de Abril, principalmente na esfera política. Quem abraça a carreira de político sabe que terá muitos olhos a observar as suas ações, sejam elas de for pessoal e pública. São as consequências do mediatismo e, sabendo delas, quem segue essa carreira terá de saber adaptar-se a essa realidade. Se não conseguir, terá dois caminhos: o legítimo, que passa por se afastar da carreira política; ou o ilegítimo, baseado na tentativa de controlo editorial desse órgão de comunicação, ou, em casos mais extremos, a coação, perseguição e humilhação em praça pública.
Mas como em tudo na vida, assim como há bons e maus políticos, também há os bons e maus jornalistas e diretores de órgãos de imprensa. Há os profissionais da comunicação social que cumprem o código deontológico de forma ética e profissional; e há aqueles que tentam fazer uma ligação à máquina do poder político para tirarem benefícios, condicionando, dessa forma, o seu papel de jornalista.
Isto vem a propósito da última Assembleia Municipal de Paços de Ferreira, realizada esta quarta-feira, onde foi possível ver tudo o que de pior existe na democracia. Não foram necessários muitos minutos. Tudo começou com a recusa de Humberto Brito de prosseguir a sua intervenção porque estava a ser filmado por um elemento do público, supostamente jornalista, e que, no entender do autarca, “se estivesse a gravar enquanto membro pessoal e não enquanto membro contratado pelo PSD” não poderia fazê-lo. Ora esta frase possibilita-nos a seguinte interpretação: O conteúdo das notícias que o alegado jornalista publica no seu alegado órgão de informação não agrada ao executivo PS e, por isso, fica automaticamente associado à oposição. Não existe, pois, a possibilidade de haver contestação ao trabalho supremo de quem lidera a Câmara Municipal.
Mas se analisarmos o perfil da ‘vítima’ deste ataque de Humberto Brito, também se pode adaptar outro argumento da tese aqui descrita. Estamos a falar de um suposto diretor de um jornal do concelho que, em 2021, se expôs publicamente num vídeo da Câmara Municipal a transmitir as suas preocupações sobre a Covid-19. Eram tempos de harmonia e em que as duas instituições se davam bem. E porquê? Porque o teor das notícias publicadas por esse órgão de informação enquadrava-se na ‘linha editorial’ da Câmara Municipal. Humberto Brito era nesse período um bom presidente, mas, de repente, deixou de o ser. O motivo poderá coincidir com alguns dos pontos desta tese…
Por fim, explicar como terminou a atuação circenses da última Assembleia Municipal. Houve a necessidade de chamar a GNR para expulsar o suposto jornalista. Suposto porque ninguém percebeu se o senhor, efetivamente, se identificou como tal, ou se era um mero cidadão a fazer as gravações da reunião.
Foi mais um episódio para assinalar este final de ano, do qual aproveito para agradecer a todos os leitores interesse demonstrado nestas prosas, desejando ainda umas Boas Festas para todos.
Até 2024!