Como disse um dia Sá Carneiro, não me peçam para estar calado! É com esta posição que analiso atualmente o populismo desmedido de Alexandre Almeida em relação às medidas da autarquia para com o COVID19.
Aproveitamento dos bombeiros e da Cruz Vermelha
Como referi recentemente, considero importante que a autarquia crie uma verdadeira campanha de sensibilização do uso de máscara. O CHEGA Paredes sugeriu até a oferta de máscaras reutilizáveis a toda a população paredense. Sugestão perfeitamente exequível e que seria um gesto muito importante para diminuir o aumento exponencial de infetados no Concelho. Uma ideia que tem sido seguida por outros concelhos e também por freguesias, inclusive até do concelho, como por exemplo Vilela.
Mas fiquei completamente desiludido com a forma como, mais uma vez, as nossas corporações de bombeiros e a Cruz Vermelha são mais uma vez utilizadas de forma populista por parte da autarquia paredense.
E digo isso porquê? A autarquia ao doar 100 mil euros em máscaras para as corporações venderem aos cidadãos paredenses estão a cometer um erro crasso.
1.º As corporações não podem e nem devem vender máscaras aos cidadãos, nem às empresas.
Mesmo referindo que é a título de donativo, na prática, isso não é verdade, pois há uma condição de pagamento para a entrega da máscara. Portanto, na minha opinião, é um ato ilegal.
2.º Toda a população paredense tem garantias de acesso às máscaras?
Desta forma não tem. Na prática, será difícil todos os cidadãos terem o acesso às máscaras, pois teriam que as adquirir nas corporações, com o risco de se infetarem, pois estamos a falar de um número considerável de pessoas a dirigirem-se ao mesmo local com o mesmo objetivo. Também para as corporações se torna difícil, pois têm de criar condições de segurança e salvaguardar recursos humanos para poderem entregar as máscaras, ainda por cima numa altura de emergência nacional, em que a operacionalidade dos quartéis está condicionada.
3.º Eticamente como ficam as corporações neste processo?
Para mim, é um contrassenso. Os Bombeiros e Cruz Vermelha têm o dever de salvaguardar a nossa vida. O seu lema é “Viva por Vida”! É estranho termos os nossos heróis venderem artigos, estilo peditório de rua, artigos esses que têm como finalidade salvar vidas, um contrassenso.
3.º Dever-se-ia dar um apoio excecional direto às corporações de Bombeiros e Cruz Vermelha do concelho, conforme proposta do CHEGA-PAREDES.
Tenho sérias dúvidas quanto à ajuda financeira desta operação. Na verdade, as corporações terão de vender as máscaras para arrecadar dinheiro. Só vendendo em quantidade, ou para uma empresa ou uma outra entidade, é que o vão conseguir e, assim, ter retorno financeiro rapidamente, pois, com a venda individual, seriam necessários dias semanas ou meses para escoar as máscaras. Na verdade, seria bem mais correto apoiar financeiramente as entidades de forma direta, proposta que o CHEGA-Paredes apresentou à autarquia, pois todas elas viram as suas receitas reduzidas de forma substancial devido a esta pandemia, devido à diminuição abrupta dos transportes não urgentes, de onde advém uma parte considerável do orçamento destas entidades.
4.º Os paredenses, em vez de terem as máscaras oferecidas, estão a pagá-las duas vezes.
Na verdade, todo o valor canalizado para esta iniciativa é pago pelos paredenses. O intuito de solidariedade para com as corporações é uma forma descarada de aproveitamento da autarquia destas entidades, obrigando a população à compra das máscaras. Os cidadãos, em vez de serem sensibilizados e terem acesso fácil e gratuito às máscaras que lhes podem salvar a vida, terão de as comprar, com deslocações e riscos para a sua saúde e dos outros.
5.º Câmara Municipal de Paredes não é amiga dos Bombeiros.
É inadmissível este aproveitamento de Alexandre Almeida e do seu executivo em relação às corporações de Bombeiros. Esta ideia de colocar as corporações a mendigar vem juntar-se a outras medidas que prejudicaram, e muito, estas entidades.
Por culpa da autarquia, algumas corporações estão com dificuldades financeiras acrescidas, dado que os 50% do valor que deveria entregar às EIP (Equipas de intervenção Permanente), perto de 20 mil euros, acabam por ser substituídos pelo subsídio das corporações, deixando algumas corporações sem o subsídio anual que lhes era devido. A lei é clara, e esta ação do executivo condiciona muito a gestão das corporações. Em vez de aumentar o subsídio aos Bombeiros, na verdade, a autarquia enganou-os com uma “imposição” das EIP’S, imposição esta que só veio criar instabilidade financeira e social dentro das instituições.
6.º O bonito que se torna feio
Alexandre Almeida, com estas medidas populistas, aproveitando-se de entidades que nos são queridas, tenta fazer “bonito”, o dois em um: com o mesmo dinheiro, dá a ideia de que está a ajudar a população e as corporações do concelho, um chico-espertismo, quando, na verdade, nem está a ajudar a população conforme devia, nem a ter a atitude mais correta para com as nossas corporações.
Com um orçamento que prevê cerca de um milhão de euros para eventos, tanto para apoio como a sua realização, canalizar uma verba para a oferta das máscaras à população e para um subsídio de apoio à nossas corporações, seria sem dúvida exequível. Seria um verdadeiro gesto de apoio e solidariedade para todos. Até porque todo esse dinheiro é fruto do esforço de todos os paredenses.
Conclusão: A Autarquia, com o dinheiro dos Paredenses, vai comprar máscaras. Mas quem as quiser usar, terá de novamente gastar dinheiro para as comprar. No meio disto tudo, ainda há o trabalho meritório dos bombeiros, se quiserem arrecadar algum dinheiro com isto, e o esforço da população, que terá de se deslocar, com riscos, aos bombeiros, para as comprar!
Não lembra a ninguém!