As eleições autárquicas de 2025 em Paços de Ferreira deixaram um retrato político complexo e cheio de nuances. O Partido Socialista consolidou a sua posição na Câmara Municipal, garantindo uma vitória clara, enquanto o Partido Social Democrata conseguiu triunfos em várias freguesias, mas sem força suficiente para recuperar o comando do concelho. Esta dicotomia entre conquistas locais e derrota concelhia revela muito sobre a situação atual do PSD e sobre os desafios que enfrenta para se afirmar como uma alternativa sólida e credível.
O PS, liderado por Paulo Ferreira, obteve 50,22% dos votos, elegendo quatro mandatos para a Câmara Municipal, enquanto a coligação PSD/CDS-PP alcançou 33,94% dos votos, garantindo três mandatos. Na Assembleia Municipal, o PS elegeu 10 deputados, contra 9 da coligação de direita, evidenciando uma vitória clara do partido governante, mas ao mesmo tempo um equilíbrio relativo que mostra o peso da oposição nas decisões municipais. Estes números deixam claro que, embora o PSD mantenha presença institucional, continua longe de recuperar o protagonismo histórico que teve durante quase quatro décadas.
Nas freguesias, o PSD registou vitórias importantes, refletindo uma capacidade de mobilização local que não pode ser ignorada. Em várias juntas, candidatos social-democratas conseguiram derrotar adversários com estratégias centradas na proximidade com os cidadãos, reforçando a ideia de que o partido ainda tem bases sólidas e militantes capazes. No entanto, estes sucessos isolados não se traduziram em poder concelhio, evidenciando a dificuldade do PSD em transformar vitórias pontuais em uma estratégia consistente para reconquistar o comando da Câmara.
A principal fragilidade do PSD de Paços de Ferreira reside na ausência de uma visão ideológica clara e coerente. Ao longo dos últimos anos, o partido alternou entre discursos liberais, voltados para o desenvolvimento económico e para a valorização das empresas locais, e propostas de oposição imediatista, muitas vezes centradas em confrontos simbólicos com o executivo socialista. Esta alternância compromete a credibilidade do partido, tornando difícil para os cidadãos compreenderem o que o PSD representa hoje e qual é a sua verdadeira visão para o concelho. A crítica ao PS é frequente e contundente, mas quase sempre desprovida de alternativas estruturadas que possam ser discutidas e implementadas de forma concreta.
Esta falta de consistência ideológica reflete-se também na comunicação e na intervenção política do partido. Muitas das ações e discursos são reativos, surgindo apenas em resposta a decisões do executivo municipal, sem que haja antecipação de propostas ou projetos próprios. A consequência é um partido que se limita a reagir ao poder instalado, incapaz de se afirmar como protagonista do debate local ou de construir um projeto de longo prazo que inspire confiança na população.
As eleições de 2025 deixam, portanto, um PSD que vive à sombra do passado, dependente de vitórias locais para manter alguma relevância, mas sem conseguir consolidar uma estratégia concelhia capaz de inverter a tendência de perda de influência. O partido precisa urgentemente de clarificar o seu propósito, redefinir prioridades e apresentar propostas que mostrem aos cidadãos que pode governar de forma responsável, eficaz e inovadora.
Paços de Ferreira, com estas eleições, evidencia que a política local não é apenas sobre resultados imediatos ou sobre ganhar freguesias; é sobre construir uma identidade política consistente, oferecer soluções concretas e mobilizar os cidadãos em torno de uma visão clara para o futuro. Para o PSD, o desafio é enorme: continuar a reagir ao PS ou assumir-se finalmente como alternativa credível, capaz de reconquistar não apenas votos, mas também confiança e protagonismo no concelho. Sem uma estratégia coerente e sem coragem política para se reinventar, mesmo com vitórias locais, o partido continuará à sombra do que já foi, sem garantir um futuro sólido em Paços de Ferreira.
Sem ideologia não há estratégia. E sem estratégia não há futuro político.




