As crianças têm cada vez menos tempo para brincar; passam menos tempo ao ar livre que os presidiários. Isto pode trazer consequências sérias para o seu desenvolvimento e, por isso, é urgente refletir sobre este assunto junto dos pais e educadores. É necessário deixar as crianças serem crianças. Caso contrário, a falta de brincadeira vai ter consequências desastrosas no seu futuro. Brincar é fundamental para construir o bem-estar físico, social e emocional, sendo evidentes as vantagens ao nível da criatividade, do desenvolvimento motor, do equilíbrio emocional e da capacidade de resiliência. A brincadeira deve envolver os adultos, seja participando ou simplesmente estando presentes a ver e a observar, partilhando com as crianças a sua atenção genuína e pura. Quando estiverem com crianças, desliguem-se do mundo; temos de lhes dar tempo livre e deixar as crianças brincar de forma criativa e genuína, sem regras, deixando-as inventar as suas próprias brincadeiras. O ato de brincar não deve proibir a criatividade e a imaginação. Tirá-las de casa, escutá-las e deixá-las ter uma voz ativa é uma tarefa aparentemente simples mas, nos tempos que correm, cada vez mais desafiante. Na verdade, creio ser mais difícil brincar que educar; as pessoas têm muitos anos para serem adultas e poucos para serem crianças sem tempo para crescer. As crianças deviam brincar pelo menos duas horas por dia, em vez de estarem à frente de um telemóvel ou de uma televisão. As crianças na escola não podem só ler ou escrever. Por vezes, os educandos esquecem as vantagens de outras atividades lúdicas mais enriquecedoras nestas idades tão precoces. Mais educação musical significa melhor audição, mais educação visual significa melhores competências para o que querem aprender, ouvir histórias, significa mais crianças pensantes. Devemos defender a infância como património da humanidade. Brincar é coisa séria.
Vitor Parati
