Em democracia, a capacidade de crítica interna deveria ser um sinal de vitalidade. No entanto, em muitos partidos, a divergência transforma-se num risco pessoal: quem ousa discordar é frequentemente empurrado para a margem, silenciado ou até afastado. Paços de Ferreira não foge a esta realidade. Aqui, como noutras zonas do país, o peso da disciplina partidária tem sobreposto o valor da pluralidade de ideias, criando um clima em que ser “yes-man” parece mais seguro do que pensar pela própria cabeça.
O conformismo interno pode render dividendos pessoais — um lugar nas listas, algum protagonismo político ou a promessa de estabilidade. Mas este ganho individual tem um preço coletivo elevado. Silenciar as vozes críticas é matar o debate, impedir a inovação e afastar militantes que ainda acreditam que a política deve servir cidadãos e não apenas estruturas de poder. Quando a lealdade cega vale mais do que a qualidade das propostas, o partido perde credibilidade e afasta os seus melhores quadros.
Em Paços de Ferreira, o debate não é diferente: Os exemplos multiplicam-se, surgem queixas sobre escolhas de candidatos feitas de cima para baixo, sem consulta real às bases, isto mostra um mal-estar crescente, em que o espaço de crítica se estreita e o eleitorado acaba a assistir a um espetáculo de fragmentação e desconfiança.
O surgimento da candidatura Unidos por Paços de Ferreira foi motivado precisamente pela necessidade de oferecer “uma proposta serena e politicamente corajosa” a eleitores que se sentem sem representação no modelo local do PS.
As consequências são claras: militantes desmotivados abandonam os partidos, a legitimidade democrática enfraquece, e os cidadãos afastam-se ou procuram alternativas independentes. O resultado é uma política local mais pobre, menos participada e mais refém de lideranças que confundem disciplina com poder absoluto.
O futuro exigirá mais coragem. Não basta proclamar democracia; é preciso praticá-la dentro das próprias estruturas. Respeitar os militantes que ousam questionar, abrir processos transparentes de decisão e aceitar que a discordância é um sinal de saúde e não de ameaça. Só assim os partidos poderão reconquistar a confiança perdida e mostrar que a política, em Paços de Ferreira e no país, pode ser um espaço de cidadania e não apenas de carreirismo.
Se os partidos querem militantes fiéis por convicção — e não por medo — precisam de reaprender a conviver com os incómodos. Só assim se mantém viva a essência da democracia.