As eleições legislativas que se avizinham, apesar de serem muito importantes, não se constituem como um hipotético corte biográfico da democracia Portuguesa. Não obstante, o Chega vir a ganhar uma significativa expressão, penso até que maior do que aquela que aparece nas sondagens, e o IL acompanhar esta mesma subida, a relação de forças democráticas não sofrerá nenhum sobressalto especial.
António Costa continua a ser o socialista e o Português mais preparado para representar o centro-esquerda, não só por tudo o que demonstrou até hoje, mas ainda porque esta matriz ideológica constitui o mais profundo da sua construção identitária político-partidária.
O PSD , independentemente de quem vá a eleições, e em caso de vitória, e desde que não se alie ao Chega, também não será mais do que o representante de uma democracia liberal, de centro-direita que tem no mercado e no setor privado os fundamentos do seu programa político.
No entanto, a questão já não se coloca da mesma forma no pós-eleições para quem as perder, ou mesmo, num futuro mais longínquo para quem as ganhar.
No caso do PS, a possibilidade deste partido, no futuro, descentrar-se, solificando-se como um partido de esquerda e não de centro-esquerda, será um erro que catapultará o partido para valores eleitorais abaixo dos 25% por muitos anos. Ganhará, no imediato, espaço político à esquerda? Sem dúvida, na ordem de um máximo de 5%, e até poderá governar uma ou duas legislaturas neste espectro, mas, no médio prazo, tal aventura condenará o PS a uma guetização de que necessitará muitos anos para dela sair.
A importância de partidos como o PCP e o BE na sociedade Portuguesa é inequívoca, e um garante da defesa das classes populares, ou se quisermos, como a direita prefere, de estratos sócio económicos desfavorecidos e desmunidos e de oportunidades de vida mais favoráveis para quem menos oportunidades tem. Aliás, tal como o é caso do CDS e do IL, enquanto defensores de uma economia de mercado mais aberta e da valorização da meritocracia como valores necessários a uma sociedade dinâmica, apesar de só conseguirem ver o problema a jusante e não a montante.
No entanto, no caso do PS, a defesa de um país profundamente comprometido com a União Europeia, de uma agenda de emprego qualificado, bem remunerado, de políticas sociais promotoras da equidade e da igualdade de oportunidades, mas também criteriosamente distribuídas, a defesa do meio ambiente enquanto âmago de todo um projeto político, a defesa de uma politica criminal e penal mais preocupada com as vítimas do que com os agressores sem desistir das políticas de reinserção e ressoacialização, a aposta na escola pública de máxima qualidade, num serviço nacional de saúde com os seus profissionais devidamente bem pagos, com especial atenção para a situação dos enfermeiros, pois são quem mais razão de queixa tem atualmente. Uma política de fixação de médicos no SNS onde estes sejam devidamente pagos, mas quando formados no ensino público, também obrigados a permanecerem no SNS pelos mesmos anos de formação que o estado investiu neles, a regulamentação não asfixiante do mercado de trabalho, mas suficiente para garantir a proteção dos trabalhadores, a aposta intransigente na integração laboral dos mais jovens, entre muitas outras batalhas na defesa do estado e do bem comum, que combata uma sociedade atomista e individualista, não precisa de um PS refém dos partidos à esquerda do próprio PS.
Marcos Taipa Ribeiro