Nos últimos tempos a palavra liberalismo tem surgido com mais destaque no léxico nacional. Quer em termos políticos quer em termos sociais e económicos.
E ainda bem!
Esta dinâmica de liberdade individual e responsável reaparece contra a melancolia coletiva em que nos encontramos, rodeados de regras e restrições, numa altura de grande transformação da sociedade e de desafios políticos acrescidos.
Portugal nunca terá sido uma verdadeira democracia liberal e a pandemia acentuou esta crença. Aparentemente, o novo normal está assente no medo, no controlo e manipulação da informação e na dependência, numa contínua deterioração das funções do estado, no compadrio, nepotismo e em teias de corrupção que toda a gente conhece e ninguém se parece importar.
Em termos históricos podemos dizer que o liberalismo clássico surgiu em Inglaterra no século XVII através das ideias do filósofo John Locke – ver a série de episódios do Instituto Mais Liberdade sobre o tema. Vários foram os pensadores, políticos e filósofos que desenvolveram estas ideias até aos nossos dias e que merecem uma leitura atenta: David Hume, Adam Smith, Friedrich Hayek, Karl Popper, Isaiah Berlin ou até Fernando Pessoa.
Por isso, à pergunta o que é o liberalismo, recorro a este grande escritor português, Fernando Pessoa, que o definiu assim: o liberalismo é “a doutrina que mantém que o indivíduo tem o direito de pensar o que quiser, de exprimir o que pensa como quiser, e de pôr em prática o que pensa como quiser, desde que essa expressão ou essa prática não infrinja diretamente a igual liberdade de qualquer outro indivíduo.”
Diferentes conceções da realidade
Podemos ter diferentes conceções de liberdade, mas não podemos confundir prioridades: a autodeterminação do individuo e do seu espírito crítico.
Podemos entender a economia de formas diferentes, mas não podemos exibir chavões irracionais que nos levam a monopólios e oligopólios, estatais e privados, à dependência do estado e ao totalitarismo económico.
Podemos ter diferentes conceções da sociedade, mas não podemos ficar presos apenas à espuma do dia das causas fraturantes, a movimentos de desprezo da história, do cancelamento cultural, ao favoritismo do cartão partidário e à velha máxima de que somos todos iguais. Não somos. Somos todos diferentes. Temos diferentes necessidades e precisamos de ser tratados de forma diferente para, aí sim, termos as mesmas oportunidades no futuro com base no mérito e na equidade.
Por isso, a realidade está mesmo longe da ficção politizada e Portugal arrisca-se a tornar-se num dos países mais pobres da União Europeia. Estamos numa espiral decadente. Precisamos evoluir enquanto sociedade e não ter medo da mudança.
O elevador social
Não precisamos de uma política centralista que olha para o país como um quadro de números. Temos a tecnologia para ir individualmente e promover relações de espírito livre e democrático, com valores humanitários e tolerantes, respeitando o ambiente e a sociedade, procurando a equidade e o crescimento da riqueza através do mérito e dos objetivos e preferências de cada um.
O elevador social está em cada um de nós, não nas mãos de iluminados da soberba e paternalistas que se assumem como salvadores do passado e a adiar sempre o futuro.
O elevador social está na educação e na saúde, livre e universal, sem amarras ideológicas entre público e privado, entre pobres e ricos.
O elevador social está na aceitação que somos todos diferentes e que há desigualdade justa e injusta. Diferentes necessidades e prioridades.
O elevador social está na democracia liberal. No crescimento da riqueza e não na repartição de um bolo cada vem mais pequeno e amargo, apoiados sempre na caridade do próximo orçamento comunitário.
Participação política para todos
Ancestral, a política é um conjunto evolutivo de opiniões e ideias que vão ganhando tração e juntando pessoas pelo caminho. Uma espécie de missão. Quando há um consenso alargado é estranho. Quando se polariza, é fraturante. Mas quando há mais vias é refrescante e agitadora.
Estamos amorfos há muito tempo. É preciso desenharmos movimentos contrários perpétuos, como a guitarra de Carlos Paredes, ideias com impacto e inspiração, contra a mediocridade que nos rodeia.
A participação política é de todos e para todos.
Ninguém deve ter receio de ter uma visão hoje e amanhã outra. Somos o resultado de choques de ideias, disrupção, falhas e seleção.
Mas ficar resignados, não! Usar o medo como bandeira, não! Vamos em busca da ação, mas com liberdade e responsabilidade.
Podemos olhar para a mudança como vinda de cima para baixo. Mas a mudança deve começar em nós, individualmente. De baixo para cima. Da nossa individualidade para a nossa família, da nossa aldeia para o concelho e daí para região, para o país e para o mundo.
Tomar conta do nosso destino é muito mais do que ficar à espera que alguém decida por nós.
Vítor Ribeiro, 12/12/2021