O que pode levar a que um homem inteligentíssimo e experiente se exponha de tal forma que, mesmo pretendendo fugir à justiça, acabe por dar pistas e indicadores claros do seu paradeiro que levam à sua deteção e consequente prisão.
O que pode ter levado Rendeiro a dar uma entrevista inconsequente e sem proveito, aparente, nenhum.
É o narcisismo estúpido, é o narcisismo…
O narcisismo, essa doença coletiva, que empesta toda a classe política, empresarial e cada um de nós, cuja muita da sua excrescência está na relação direta com a perda da importância da religião na vida de cada um e de todos, na perda da importância da luta ideológica e de tudo o quanto são ideais universais e coletivos capazes de mobilizarem a comunidade e a sociedade fazendo sublimar desejos e pulsões individuais.
Vivemos tempos de hedonismo, de micro-heróis, de omnipotência com “pés de barro”. Os tempos dos “gatos que se olham ao espelho e se veem como tigres”, mas tudo isto na base da construção de uma identidade frágil, sem uma organização narcísica sólida onde não há espaço para se assumir os naturais fracassos e impotências, antes, transformando estas nas arrogâncias prepotentes que tentam aniquilar o outro e o olham com, suposto, desdém, sob o aplauso constante e frágil dos acólitos da necessidade.
Ora Rendeiro, vítima dos tempos modernos e de um ego maior que a sua própria riqueza, aparenta encerrar em “si mesmo” as características dos criminosos de colarinho branco, onde o narcisismo, a crença na sua impunidade e a dificuldade em lidar com a frustração, ocupam um lugar central.
De resto, não terá conseguido resistir à vaidade bacoca de dar uma entrevista alimentando o seu ego, o seu sentimento de grandiosidade, de omnipotência, julgando-se acima de qualquer possibilidade de ser capturado, julgando vingar-se, ainda que simbolicamente, de Portugal e dos seus órgãos de soberania, buscando a satisfação imediata da vingança ao mesmo tempo que dava uma imagem de autoridade e liderança intocável.
A Polícia Judiciária agradeceu, assim como todos os Portugueses.