OpiniãoFukuyama estava certo, mas errado em Portugal

Fukuyama estava certo, mas errado em Portugal

Relacionados

Gestão cemiterial: Um passo para a frente, dois para trás?

Em 1835, foi executado o primeiro decreto que estabelecia os cemitérios públicos no país. Desde então, as leis cemiteriais foram sofrendo alterações no que...

A política de transportes da AD em Penafiel

Corria o ano de 2020 quando a autarquia anunciou um investimento de 1,5 milhões de euros para o novo centro de transportes da cidade...

Valongo: Chefe da PSP suspenso após desacatos em café

A Ministra da Administração Interna suspendeu, por 60 dias, um chefe da PSP que, em julho de 2023, vandalizou a esplanada do Fórum Cultural...

Depois da queda do muro de Berlim, em 1989, o escritor Francis Fukuyama anuncia o “fim da História”, já que, segundo o mesmo, a democracia liberal havia triunfado e seria definitivamente o modelo político e social incontestável ao redor do globo, estando terminada a guerra ideológica que deflagrara durante séculos.

Observando o título do artigo, é, no mínimo, irónico, que o inicie declarando uma total discórdia com o autor e com a suposta observância do “fim da História”, no entanto tal é necessário, uma vez que os eventos recentes refutam o grosso da teoria de Fukuyama. Os regimes socialistas/comunistas que ainda vigoram atualmente, a ascensão de fenómenos populistas no mundo ocidental e o confronto de ideologias, ainda que dentro das democracias liberais, demonstram o aparente falhanço desta teoria.

Ora a verdade é que, analisando as mais desenvolvidas democracias liberais do ocidente, tendo as mesmas mais ou menos elementos que coloquem em causa a vigência da democracia, podemos observar que todas elas atingiram um nível de organização social, política e económica tal, que a simples manutenção do sistema resulta, muitas vezes num progresso social. Nestes casos, a guerra ideológica torna-se obsoleta, uma vez que se deu, ainda que num contexto muito específico, o “fim da história”, sendo a ideologia substituída pela popularidade e empregue no sentido da obtenção e manutenção do poder político e não nas reformas condizentes com o modelo de sociedade que supostamente defenderiam. Os rótulos de “liberal”, “esquerda”, “direita”, “conservador” e outros que tais significam pouco nestes países, ainda que existam partidos e indivíduos que orientam a sua atividade política pela sua ideologia, os casos de sucesso eleitoral são os de políticos que sacrificam a sua posição ideológica de modo a assumir uma posição conhecida em política como “catch-all”.

Ainda que em países como a França, Alemanha ou Reino-Unido, em que o sistema, de certa forma, escusa a necessidade de reformas profundas, podendo a ideologia estar reservada a questões mais fraturantes e sobretudo pontuais (crise dos refugiados, mercado da habitação ou o Brexit), essa ausência de ideologia política não signifique um retrocesso e nem mesmo uma estagnação económica e social, ao olhar para o nosso país, com uma democracia relativamente jovem e, consequentemente, com um sistema político que falha em dar resposta a bastantes problemas e um tecido económico pouco competitivo internacionalmente, torna-se evidente que este não pode dispensar uma discussão ideológica sobre qual deve ser o caminho a seguir e quais as reformas que devem ser aplicadas, de forma a garantir o funcionamento da sociedade enquanto responsável por resolver os problemas dos seus indivíduos.

É, por isso, urgente que os portugueses evitem resignar-se com um país medíocre no cenário europeu e que promovam essa mesma discussão ideológica que no passado edificou os maiores e mais bens sucedidos Estados Democráticos de Direito e que ainda é solução para os pontuais problemas que os mesmos ocasionalmente apresentam. Para que tal seja possível é necessária uma enorme mudança de mentalidade em Portugal, dividida talvez em 3 passos:

Em primeiro lugar, é imperativa uma rejeição clara, não só dos partidos que conduziram o país a esta situação de estagnação e mediocridade a que chegou, como dos partidos que se prestam constantemente a apontar problemas e a hiperbolizá-los, mas se recusam a apresentar soluções concretas para os mesmos. Depois, os portugueses devem procurar saber, livrando-se de preconceitos e espantalhos argumentativos, qual a sua posição ideológica, o seu modelo de sociedade, não só de um ponto de vista individual, mas também de um ponto de vista de atuação global do Estado. E, por fim, votar. Votar em consciência, naturalmente, mas sobretudo não faltar ao dever cívico de fazer ouvir a sua voz, por mais insignificante que esta possa parecer.

Se a população seguir estes passos, é garantia que, mais cedo ou mais tarde, o país melhorará, permitindo construir uma sociedade cuja organização torna possível a resolução da maioria dos problemas, alcançando finalmente o “Fim da História” em Portugal, que representará o triunfo da Democracia Liberal e de todos os portugueses.

João Santos

Iniciativa Liberal de Valongo

 

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -spot_img

Últimos Artigos

- Publicidade -