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Sexta-feira, Dezembro 6, 2024
OpiniãoConcelho de Paredes em chamas… outra vez!

Concelho de Paredes em chamas… outra vez!

Não sei se o sr. Ministro utilizou esta palavra com o sentido de que lhe provoca o riso ou se por achar que é insignificante. Pessoalmente acho que nem uma nem outra interpretação faz sentido. De entre tantas palavras, “irrisória” seria certamente uma das últimas que eu utilizaria para adjetivar um flagelo que anualmente se repete no nosso país, particularmente em Paredes, com consequências a diversos níveis, desde logo ambientais, económicos, sociais e acima de tudo de vidas humanas. E em Paredes só não foram ainda mais trágicas porque o concelho tem 5 corporações de bombeiros, compostos por mulheres e homens dispostos a por em causa a própria vida, esses sim apoiados pelo município de Paredes de forma irrisória (basta lembrar os episódios do apoio às EIP – Equipas de Intervenção Permanente e, mais recentemente, da necessidade de vender máscaras à população).

De 2018 para cá, muita coisa mudou, seja ao nível do comando de algumas das corporações dos bombeiros, seja o facto do vereador responsável pela área da Proteção Civil estar agora “a tempo inteiro”. Arrisco a dizer que o mundo inteiro mudou! mas, em Paredes perante tal anúncio de um ministro, e face à liderança de um ranking que certamente nenhum município quer, pouco ou nada foi feito.

Apenas são anunciadas avulso, “para a fotografia”, não existindo uma estratégia de gestão das florestas, de ordenamento do território, mobilidade e prevenção dos incêndios.

Não há ao nível nacional, não há ao nível municipal e muito menos em Paredes.

Foi por isso sem surpresa que em 2020, Paredes volta a encabeçar a lista nacional dos municípios com mais incêndios. De acordo com o 3° Relatório Provisório de Incêndios Rurais do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas Paredes conta desde o início do ano com 337 incêndios, curiosamente os mesmos que ocorreram em 2018. Mais do que os municípios vizinhos de Penafiel, Valongo e Lousada todos juntos. É certamente um “caso de estudo”, mas estudos não parece ser algo que interesse para estes lados.

A grande medida de prevenção dos incêndios surge-nos sob a forma de limpeza das matas, acerca da qual não me vou pronunciar, mas deixo-vos com a opinião de Gonçalo Ribeiro Telles, um senhor de quem eu sou admirador confesso e que merecia um maior reconhecimento por parte dos portugueses:

“A limpeza da floresta é um mito.

O que se limpa na floresta, a matéria orgânica?

E o que se faz à matéria orgânica, deita-se fora, queima-se?

Dantes era com essa matéria que se ia mantendo a agricultura em boas condições e melhorando a qualidade dos solos. E, ao mesmo tempo, era mantida a quantidade suficiente na mata para que houvesse uma maior capacidade de retenção da água.

Com a limpeza exaustiva transformámos a mata num espelho e a água corre mais velozmente e menos se retém na mata, portanto mais seco fica o ambiente. A limpeza tem de ser entendida como uma operação agrícola. Mas esta floresta monocultura de resinosas e eucaliptos, limpa ou não limpa, não serve para mais nada senão para arder. Aquela floresta vive para não ter gente.”

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