Remontemos ao ano de 2001. Um proprietário (Câmara) tem um prédio (área do concelho de Paredes). Em concurso público, a autarquia concessiona o mesmo prédio a uma empresa, a Be Water. Esta empresa tem o compromisso de gerir o prédio e fazer todos os investimentos necessários (saneamento e água) para que os inquilinos (Paredenses) possam usufruir dele (serviços). Mas, pouco depois, a Be Water verifica que, afinal, o prédio já tem outras empresas gestoras (subconcessões, cooperativas de água) e que estas não permitem o cumprimento do investimento a que se tinha comprometido no negócio. Esta situação põe em causa o retorno financeiro expectável do investimento previsto, afinal não realizado. Esta situação coloca a Câmara Municipal de Paredes em incumprimento.
Alguns anos depois, em 2008, com Celso Ferreira à frente da Câmara, realiza-se um acordo com a Be Water, que prevê a entrega do “prédio” na totalidade à Be Water, até 2012, incluindo o território das subconcessões.
12 anos depois, em 2020, a Be Water continua a não ter a totalidade do prédio para realizar o investimento na plenitude e usufruir das vantagens desse investimento contratualizado em 2001.
Lembrar que, anos antes, em 2017, sobem por uma escada os socialistas. Ganham as eleições e surgem com uma solução mágica. Segundo o líder, vão dividir o prédio, assumindo a Câmara Municipal as obras da parte do “prédio” onde estavam as antigas empresas gestoras, o território das subconcessões (Sul do Concelho), deixando o restante território para a concessionária Be Water. Um dos que subiu as escadas até à varanda, o atual presidente da Câmara, Alexandre Almeida, fartou-se, durante três anos, de iludir os paredenses, faltando constantemente à verdade, referindo acordos com a empresa concessionária do prédio, acordos esses que pelos vistos nunca existiram. Até que, num determinado momento, a concessionária, Be Water, refere que pelo menos terá de aumentar o preço da água de acordo com a inflação, situação que não acontece há alguns anos. Nesse momento, Alexandre Almeida, com receio de perder votos no ano seguinte, 2021, ano de eleições, decide optar por uma nova fantasia: resgatar o prédio de novo, mas fechando os olhos ao incumprimento da Câmara, pagando apenas o que está acordado em 2001 (o tal acordo do prédio todo, mas do qual a Be Water nunca conseguiu usufruir na plenitude). Pelas contas rápidas deste autarca, a autarquia apenas teria de dar 22 milhões de euros à Be Water para ficar assim de novo com o prédio (toda a concessão de água e saneamento no concelho de Paredes).
Esta fantasia torna-se num pesadelo, pois, dias depois, a Be Water reclama 200 milhões de euros pelo resgate, culpando a Câmara pelo facto de nunca ter usufruído da concessão do “prédio” que venceu no concurso público em 2001.
E agora?
Paredenses, na minha opinião, temos de assumir a verdade. É essa a única forma de conseguirmos resolver o problema da falta de saneamento e água no concelho de Paredes.
Eu sou a favor da municipalização das águas do concelho, mas tenho de ser responsável. Se for presidente da autarquia, voltarei atrás e negociarei a subconcessão, procurando, com a empresa Be Water recuperar o tempo perdido. Cada caso merecerá uma atenção personalizada, para compensar o que tiver de ser compensado em relação às subconcessionárias, permitindo entregar as subconcessões à Be Water, até ao fim da concessão, em 2035. Esta entrega será acompanhada de um plano concreto, com objetivos claros, com um aditamento e sem zonas cinzentas, com um cronograma rigoroso e com penalidades sérias para a empresa para evitar possíveis incumprimentos do cronograma de trabalhos. Trabalhos esses que devem ser executados num curto espaço de tempo, de seis a sete anos, permitindo dessa forma a construção das infraestruturas de água e saneamento no Sul do concelho, chegando-se a 2035 com a rede de saneamento a 100%.
Na verdade, acredito que ainda é recuperável o tempo perdido. Para que isso aconteça apenas temos de ser convergentes pelo bem comum. Evitar um problema sanitário e ambiental passa por cada um de nós. O investimento só é importante se o mesmo suscitar taxas de ligação que o justifiquem, independentemente de a entidade responsável pela concessão ser privada ou pública. Por essa razão, os Paredenses têm de ter a noção de que têm de se ligar à rede, porque se isso não acontecer estará uma parte dos paredenses a suportar o custo de todo o concelho.
Não podemos, apenas e só pelos votos, pelo “tacho” de alguns, hipotecar o futuro do nosso concelho, o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos.
A entrega das subconcessões resolverá os problemas?
Sim, Paredenses, é a única solução. Fizemos um acordo em 2001. Agora, passados 19 anos e a 15 de esse acordo terminar, temos, de uma vez por todas, de o assumir e, assim, fazer com que a Be Water faça intervenções no nosso prédio (território), com todas as condições de que precisamos. De outra forma, vamos todos gastar muitos milhões para reaver o prédio e outros tantos para o reparar e adaptar às exigências atuais de habitabilidade.
É necessário implementar um acordo, que evite zonas cinzentas, que implique penalidades concretas para a Be Water em caso de não cumprimento do plano de investimentos após a entrega dos subsistemas! São tempos de ação, de propostas concretas e não de demagogia!
Podemos dizer que queremos muito um brinquedo, mas não podemos ser meninos mimados ao ponto de não entendemos que não temos condições para o ter, pois não temos nem dinheiro, nem recursos. Até porque está em causa a possibilidade de investir em novos equipamentos para o concelho, evitando que Paredes siga o caminho da estagnação.