O Município de Lousada associa-se às Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e, no domingo, dia 22, decorreu a primeira atividade. O programa de celebração começou com a evocação do comício e posterior carga policial que aconteceu no salão dos Bombeiros, em outubro de 1973.
Assim, a autarquia lembrou a última ação local de oposição à ditadura, através do descerramento de uma placa evocativa e a realização de uma tertúlia com a presença dos candidatos do Movimento Democrático do Porto (MDP), Dra. Berta Granja e António da Silva Mota e de vários Lousadenses que assistiram ao comício. Houve ainda uma recriação teatral da intervenção da GNR e um momento musical protagonizado pela Banda de Lousada.
A noite de 24 de outubro de 1973 foi marcante em Lousada, tendo a Oposição Democrática realizado um grande comício eleitoral no antigo salão dos Bombeiros de Lousada. Durante a sessão, uma força policial de intervenção cercou o edifício e bloqueou a saída. Com a justificação de que já passava da hora autorizada, o comandante da força policial advertiu os organizadores a terminar o comício e a desmobilizar. Quase de imediato, deu-se uma violenta carga policial sobre o público presente. Foi uma das últimas ações repressivas do
Estado Novo e aconteceu em Lousada.
Na tertúlia, o Presidente da Câmara, Dr. Pedro Machado, destacou que “esta é uma forma de prestar um tributo a todas as pessoas que organizaram e participaram no comício realizado em Lousada, em outubro de 1973. Por isso, nunca é demais valorizarmos a liberdade e a democracia, e a presença dos dois convidados, que participaram ativamente no processo, vem prestigiar o início das comemorações”.
A Dra. Berta Granja, na época estudante universitária, referiu que na sua “experiência de contactos com a juventude e que esta estava, maioritariamente, contra o regime e, sobretudo, contra a Guerra Colonial”. Aliás, esse era dos temas mais falados.
A este propósito António Mota teve a oportunidade de salientar que “Marcelo Caetano quis, durante algum tempo, dar a ideia de abertura do regime, mas o facto é que ia permitindo enquanto ia também reprimindo. O facto é que o povo queria a democracia”.
Relativamente ao comício de 24 de outubro de 1973 em Lousada, António Mota destacou que “houve uma reunião preparatória com um grupo de marceneiros, tendo sido entregues panfletos de propaganda para serem distribuídos no comício. Em Lousada encontrei gente disposta a lutar pela democracia. Uma palavra de grande apreço aos Bombeiros Voluntários por terem a coragem de permitir que a iniciativa se realizasse nas suas instalações”. Ainda de acordo com o militante do Partido Comunista Português (PCP), “estavam centenas de pessoas em Lousada, tendo sido uma agradável surpresa”.
A Dra. Berta Granja lembrou que “houve muitos feridos e viam-se as pessoas a fugir da polícia. Por um lado, era a GNR a bater e por outro a aflição das pessoas que tentavam fugir. Quem estava na mesa não podia fazer nada”.
No comício estiveram presentes o Dr. Arnaldo Mesquita, Macedo Varela, Dr. Cassiano Lima, Manuel Teixeira da Mota, António Mota e a Dra. Berta Granja. Aliás, a nível local, o principal organizador desta ação foi o Dr. Arnaldo Mesquita, natural da freguesia do Torno, com escritório de advocacia no Porto, preso político e militante do PCP.
Exposição inaugurada a 24 de novembro
A exposição “Unidos Venceremos! Protesto, Greves e Sindicatos no Marcelismo (1968-1974)” vai ser inaugurada a 24 de novembro, pelas 18h00, sendo guiada por José Pacheco Pereira. Trata-se de uma mostra documental do Arquivo Ephemera e da Comissão Nacional das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que pode ser visitada até 31 de janeiro, no Espaço AJE.