Há dias em que a política parece uma maré cheia de promessas e, no entanto, o que chega à praia é apenas espuma. Branca, leve, efémera – palavras inflamam-se nos ecrãs, os gestos multiplicam-se nas redes, e cada indignação dura até à próxima notificação. A política – que deveria ser o exercício paciente de construir o comum – transformou-se num espetáculo contínuo. Cada ator procura o melhor ângulo, o melhor som, o melhor escândalo. E nós, espectadores, confundimos ruído com substância, movimento com mudança.
Mas a espuma, por mais vistosa que seja, não é o mar. O mar é o fundo silencioso onde se decidem as correntes, onde o tempo trabalha em profundidade. É aí que as verdadeiras transformações acontecem – lentas, invisíveis, quase teimosas. Talvez devêssemos aprender a olhar para esse fundo, a ouvir menos as ondas que gritam e mais o murmúrio que perdura.
Porque a politica – a verdadeira – não é feita de frases virais nem de gestos formativos. É feita de escolhas concretas, de escuta, de convivência. É o exercício humilde de cuidar do espaço que partilhamos. Quando esquecemos isso, ficamos apenas com a espuma: bela, talvez, mas vazia.
E assim seguimos, entre a pressa e o esquecimento, à espera de um dia a maré nos devolva um sentido mais profundo – um gesto que pese, uma palavra que fique, uma política que não se dissolva com o vento.
No entanto, há uma esperança discreta nas margens desse tumulto. Ele habita nos gestos que não procuram aplauso, nas vozes que se recusam à pressa, nas perguntas que resistem a respostas fáceis. Talvez a política comece novamente em aceitarmos mergulhar – abandonar a espuma e descer ao fundo, onde as correntes são lentas, mas verdadeiras.
Porque o que nos falta não é opinião, é profundidade. E nenhuma sociedade sobrevive apenas à flor da água.
TSD LOUSADA




