No concelho de Paços de Ferreira, há uma certeza antiga que ainda vale, é nas freguesias que se sente verdadeiramente o pulsar da comunidade. Não é nos salões cheios de luz da Câmara Municipal, nem nas sessões formais cheias de microfones e rituais. É ali, à porta da junta, no atendimento de balcão, no olhar directo, no aperto de mão que ainda significa qualquer coisa. E, no entanto, apesar dessa proximidade humana e territorial, as juntas de freguesia encontram-se num daqueles momentos em que precisam de decidir se querem ser meras zeladoras do quotidiano ou protagonistas do futuro do município.
Hoje, as juntas conhecem cada rua esburacada e cada banco de jardim gasto de tanto vizinho ali pousar conversa. Sabem onde a relva cresce mais rápido do que o orçamento permite e onde os semáforos insistem em desafinar o trânsito. Fazem o trabalho invisível que mantém o concelho de pé, muitas vezes com meios diminutos e paciência infinita. Mas, num território que já foi símbolo de pujança industrial e que agora tenta equilibrar identidade local com ambições modernas, o papel destas instituições já não pode ser apenas o de “resolver o que aparece”. A freguesia contemporânea precisa de visão, planeamento, ambição e coragem para agir como espaço político real, e não mero balcão administrativo.
Chegou a hora em que é preciso olhar para as juntas não como “extensões menores” do executivo municipal, mas como motores de transformação. O futuro vai trazer-lhes responsabilidades novas, pensar o espaço público como lugar de encontro e vida, e não só como superfície para varrer; repensar a mobilidade local, criar rotas seguras, acessos dignos, e alternativas ao carro em freguesias onde as estradas sempre foram rainhas, valorizar o lado rural onde ele ainda vive, antes que os campos se tornem apenas memórias em fotografias amareladas. E, sobretudo, reinventar a relação com os cidadãos, que já não querem apenas pedir favores ou reclamar buracos, mas ser parte da decisão, participar, propor, construir em conjunto.
Esperamos juntas que se saibam modernizar sem perder o toque humano. Que sejam capazes de captar fundos, lançar projectos, promover cultura e ligação social, mas que ainda tenham tempo para atender o senhor António que chega com uma história maior que qualquer regulamento. Queremos autarcas capazes de ouvir e de liderar; que compreendam que proximidade não se mede só em metros, mede-se em confiança. E confiança ganha-se com transparência, trabalho e presença no dia-a-dia.
Paços de Ferreira não precisa de freguesias que vivam agarradas ao “foi sempre assim”. Precisa de freguesias que levantem a cabeça, tomem posição e sejam o laboratório vivo de um concelho que quer combinar tradição com futuro. Porque um território não se constrói apenas com grandes obras e planos distantes. Constrói-se com ruas limpas, praças vivas.
O poder local nasceu para estar perto das pessoas. Esta governação de proximidade não pode ser apenas um selo bonito num discurso. Tem de ser prática, visível, transformadora. Se as juntas de freguesia assumirem esse papel, Paços de Ferreira não ganhará apenas melhores serviços. Ganhará comunidade viva, activa, orgulhosa e capaz de olhar para o amanhã com os pés bem assentes no chão e o coração apontado ao futuro.
E se não o fizerem? Então continuaremos a varrer folhas enquanto o vento muda. E ninguém quer viver num concelho onde o vento manda mais do que quem nele habita.




